“Aconteceu numa viagem ao Nordeste. Ao sair da pousada onde estava hospedado, fui atacado por um pastor alemão que veio silenciosamente por trás. Não tive tempo de fazer nada. O dono da pousada apareceu em seguida e disse, segurando o animal, com toda calma, que eu não precisava me preocupar porque o cão era vacinado. A mordida do ser irracional não me provocou tanta revolta quanto o pouco caso do dono em deixá-lo solto num local onde circulam pessoas estranhas, e sua falta de interesse em saber o quanto eu havia sido ferido.Fingi que estava tudo bem, mas resolvi bolar um plano. Continuei na pousada e programei o horário de todos meus passos no dia da partida.Coloquei minha mala na janela, que dava para a rua, depois de me certificar que ninguém estava vendo. Em seguida saí como se fosse para perto, dei meia volta, peguei minha mala e fui para a estação. Sem pagar a conta. Fiz questão de deixar um bilhete dentro do apartamento dizendo o porquê de minha atitude, e que iria avisar a quantas pessoas conseguisse para não se hospedarem naquela espelunca.A aventura não acaba aí, porque eu, que estava com os minutos contados para chegar à estação antes que descobrissem minha fuga, fui interceptado por um homem que estava muito alterado e dizia que iria acabar com uma pessoa e depois se mataria. Querendo me livrar daquele maluco, perguntei com quem estava ele tão nervoso e qual o motivo. Me respondeu que era um problema de família. Falei então que fosse o que fosse nada justificaria aquela atitude. Começou a chorar, me abraçou e beijou dizendo que eu era seu verdadeiro amigo e que tinha salvo sua vida. Parecia não querer me largar, mas como o caso parecia resolvido, consegui me livrar dele e fui depressa para a rodoviária. Quase perdi o ônibus, mas ainda deu tempo. Fui embora duplamente satisfeito” (Miguel)
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