Minha esposa e eu estávamos em uma mesa com amigos quando uma mulher sorridente, em trajes de camponesa, sentou-se ao nosso lado. Ela trazia em suas mãos o acessório mais apropriado para esta região da Irlanda: um acordeão diatônico (aquele que não possui teclas, só botões). A mulher era Mary Staunton, conhecida em todo o oeste irlandês por sua música.
Quando alguém fez o pedido inevitável, ela agradeceu e começou a tocar o instrumento: seus dedos saltando de um botão para outro, como crianças brincando de amarelinha - saltando de um quadro para outro freneticamente, mas bem seguras de onde estão pisando. De repente, um senhor de cabelos brancos mencionou uma canção antiga de sua infância. Será que ela conhece a canção? Claro que sim.
Um sorriso é estampado no rosto do velhinho quando os dedos ágeis da musicista terminam sua coreografia pelos botões do instrumento. De repente, do outro lado do salão, surge a voz hesitante, mas clara, de uma moça que se encheu de coragem e resolveu cantar. À medida que ela começa a entoar uma canção tradicional irlandesa, todas as vozes se calam: o pub inteiro é transportado por sua música. Naquele momento único fui tomado por um pensamento: algo assim nunca aconteceria no lugar de onde vim.
Seria aquela a verdadeira Irlanda? Ou seria apenas um raro golpe de mágica, que parou o tempo no Connolly’s, por alguns instantes, para validar o sentido da velha Irlanda – dos tempos em que a desigualdade econômica entre dois países fazia com que os turistas americanos esbanjassem seus dólares ali como em um enorme duty free? Apesar de um certo desconforto econômico assolar aquele país, é difícil fugir da constatação: agora os tempos são outros.
O que consegui perceber nas longas temporadas que passei nos condados de Galway e Clare ao longo de todos esses anos, foi que a Irlanda pode ser o lugar que você deixou de ir quando viajou para a Irlanda, procurando encontrar a verdadeira Irlanda.
Sim, se você procurar bem, poderá encontrar uma cabana de palha aqui, outra ali. Poderá até dar de cara com algumas ovelhas atravessando a estrada e bloqueando o caminho do seu carro alugado, trazendo à memória a imagem de um cartão-postal, com os seguintes dizeres: “Hora do Rush Na Irlanda”.
Mas aqueles que saem por ai tentando encher suas câmeras digitais com imagens que se aproximem de um cartão-postal já desbotado pelo tempo, certamente irão perder as complexidades de um país que desfruta de sua abundância completamente ao ingressar na União Européia - e, ao mesmo tempo, tenta se adaptar aos novos moldes - preservando suas paisagens oníricas e a herança cultural que tanto orgulho traz a seus cidadãos.
Pode até ser que você estaja em um pub de Kinvara quando uma jovem irlandesa, de repente, começar a cantar. Mas também pode acontecer de você pode virar a esquina e entrar em um restaurante, para jantar, onde será atendido por um jovem com um sotaque do Leste Europeu ao invés de um dialeto local.
Pegue a estrada e siga até Gort, antiga cidade mercantil a dez quilômetros dali, e será envolvido pelo ambiente festivo da cultura brasileira, representada por uma comunidade que se estabeleceu na cidade e acabou se tornando parte integrante do local.
Eis, então, a Irlanda encantadora do novo milênio.
Quando alguém fez o pedido inevitável, ela agradeceu e começou a tocar o instrumento: seus dedos saltando de um botão para outro, como crianças brincando de amarelinha - saltando de um quadro para outro freneticamente, mas bem seguras de onde estão pisando. De repente, um senhor de cabelos brancos mencionou uma canção antiga de sua infância. Será que ela conhece a canção? Claro que sim.
Um sorriso é estampado no rosto do velhinho quando os dedos ágeis da musicista terminam sua coreografia pelos botões do instrumento. De repente, do outro lado do salão, surge a voz hesitante, mas clara, de uma moça que se encheu de coragem e resolveu cantar. À medida que ela começa a entoar uma canção tradicional irlandesa, todas as vozes se calam: o pub inteiro é transportado por sua música. Naquele momento único fui tomado por um pensamento: algo assim nunca aconteceria no lugar de onde vim.
Seria aquela a verdadeira Irlanda? Ou seria apenas um raro golpe de mágica, que parou o tempo no Connolly’s, por alguns instantes, para validar o sentido da velha Irlanda – dos tempos em que a desigualdade econômica entre dois países fazia com que os turistas americanos esbanjassem seus dólares ali como em um enorme duty free? Apesar de um certo desconforto econômico assolar aquele país, é difícil fugir da constatação: agora os tempos são outros.
O que consegui perceber nas longas temporadas que passei nos condados de Galway e Clare ao longo de todos esses anos, foi que a Irlanda pode ser o lugar que você deixou de ir quando viajou para a Irlanda, procurando encontrar a verdadeira Irlanda.
Sim, se você procurar bem, poderá encontrar uma cabana de palha aqui, outra ali. Poderá até dar de cara com algumas ovelhas atravessando a estrada e bloqueando o caminho do seu carro alugado, trazendo à memória a imagem de um cartão-postal, com os seguintes dizeres: “Hora do Rush Na Irlanda”.
Mas aqueles que saem por ai tentando encher suas câmeras digitais com imagens que se aproximem de um cartão-postal já desbotado pelo tempo, certamente irão perder as complexidades de um país que desfruta de sua abundância completamente ao ingressar na União Européia - e, ao mesmo tempo, tenta se adaptar aos novos moldes - preservando suas paisagens oníricas e a herança cultural que tanto orgulho traz a seus cidadãos.
Pode até ser que você estaja em um pub de Kinvara quando uma jovem irlandesa, de repente, começar a cantar. Mas também pode acontecer de você pode virar a esquina e entrar em um restaurante, para jantar, onde será atendido por um jovem com um sotaque do Leste Europeu ao invés de um dialeto local.
Pegue a estrada e siga até Gort, antiga cidade mercantil a dez quilômetros dali, e será envolvido pelo ambiente festivo da cultura brasileira, representada por uma comunidade que se estabeleceu na cidade e acabou se tornando parte integrante do local.
Eis, então, a Irlanda encantadora do novo milênio.
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