Diferente do que se imagina, a região não foi um oceano, mas o que sobrou das águas do Minchin, um gigantesco lago pré-histórico que teve suas águas salgadas evaporadas há milhares de anos. A força da natureza por ali é tão grande que o Salar tem crescido com as chuvas que vêm expandindo as suas margens, em um constante processo de evaporação que mantém vivo esse cenário branco.

Cresce o Salar, cresce o número de visitantes sobre suas placas brancas que vão de dois centímetros a cinco metros de profundidade de puro sal. San Juan, uma província próxima à atração, viu seus registros pularem de dois ínfimos visitantes em 1975 para 60 mil no último ano por conta do fôlego que essa formação deu para a região.A população local logo se deu conta do interesse mundial pelo Salar e viu ali uma oportunidade de diversificar seus poucos ganhos provenientes da pecuária e agricultura. Povoados como Colchani, com 1.400 habitantes, tem 70% da sua população vivendo da extração e comercialização de sal. Parece até miragem.

O Salar do Uyuni parece mesmo ilusão de ótica para os que chegam pela primeira vez. Os visitantes que desembarcam na Ilha Incahuasi, uma das paradas já em território branco, não se cansam de ensaiar fotos com efeitos óticos de diferentes perspectivas. E a brincadeira vai ganhando outros tons de acordo com a época do ano.
De dezembro a março, as chuvas formam uma capa fina de água sobre o Salar que reflete tudo o que se encontra acima do gigante branco. Já o inverno garante uma área seca sem riscos de alagamentos, embora o frio à noite seja implacável com seus 20 graus negativos.


Importância do sal na região


As sensações são mesmo extremas, até mesmo antes de chegar ao Salar do Uyuni. A um quilômetro do centro da cidade que dá nome a essa atração boliviana, o curioso Cementerio de Trenes lembra a época em que empresas francesas e inglesas apostavam na região. Hoje, esses vagões do final do século 19 que enviavam para o Chile os minerais encontrados no país são trens enferrujados que se tornaram também ponto de interesse turístico.Mas em uma região em que o sal é o principal atrativo, um cemitério de sucatas fica logo para trás e os carros 4x4 começam, mais adiante, a riscar a imensidão do Uyuni levando aventureiros em busca de novas paisagens.

O pequeno museo em Colchani é puro sal e apresenta obras de artes andinas feitas com esse produto. Os objetos vendidos do lado de fora pelos artesões locais também são de sal; e tem até hotel feito de... sal (naturalmente) onde os móveis, as paredes e o chão são construídos com esse material.

Se no Uyuni reinam as diversas possibilidades de branco, é na Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa onde as cores assumem novas possibilidades. Se você chegou até aqui, vale a pena dar uma esticada pela região em um dos tours organizados de três dias.São 885 quilômetros Bolívia adentro por uma biodiversidade que inclui paradisíacos lagos multicoloridos, Salares em formação, desertos, restos arqueológicos e animais selvagens.

Quando o branco do Salar vai ficando para trás, a parada seguinte é um mundo que esteve submerso em águas durante milhares de anos: a Caverna das Galáxias, uma formação descoberta recentemente que guarda o que supostamente seriam as espumas das águas evaporadas que deram origem ao Salar. As formas lembram corais e fazem jus ao nome da atração. É realmente uma visita a outro mundo.

No dia seguinte, outra atração parece levar o visitante a um novo mundo: as lagoas policromáticas de água salgada localizadas em áreas de até 4.300 metros de altitude, na província de Sud Lípez, em Potosí.A vontade é dar um pulo em suas águas absurdamente coloridas para nadar entre flamingos e gaivotas, mas o terreno pantanoso das lagoas não nos permite. A contemplação é o maior consolo.

Flamingos e gêiseres
A Laguna Colorada rouba a atenção na visita às lagoas da região. As algas e a cor ocre da terra em uma área de 60 km² justificam o nome escolhido. Os tons avermelhadas ao longo de toda a sua extensão disputam com o rosado dos flamingos e o branco forte das ilhas de bórax. Um verdadeiro quadro impressionista em terras sul-americanas.
E das luzes e cores do impressionismo passamos, no último dia da viagem, ao surrealismo de Dalí. O deserto que recebe o nome desse pintor espanhol deve-se à suposta passagem desse artista por uma região que teria servido de inspiração para o artista. Surrealismo ou não, a disposição das rochas vulcânicas pela areia fina não deixa de lembrar suas obras.Nesse mesmo dia, gêiseres pela manhã bem cedo e um banho em águas termais a 4.500 metros de altura completam a empreitada país adentro, e as cores da manhã se confundem com a fumaça quente subindo o céu ainda escuro. As formações rochosas e os poços vulcânicos encontrados nesse trecho do roteiro levam o visitante à era mesozóica.Como se vê, na bandeira da multicolorida Bolívia cabem muito mais tons do que o vermelho, o amarelo e o verde. As outras cores estão escondidas deserto adentro.


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